E a procissão das lavadeiras pede passagem

Aender Reis – percussionista

Machacalís – Vale do Mucuri – Minas Gerais – Brasil profundo. Essa foi mais uma parada da Procissão do Devoção, novo disco do Coral das Lavadeiras e Carlos Farias, que diga-se de passagem, é filho da terra. Carinho, afeto, ótima recepção, café, bolo, biscoito, pão. Assim foi nossa chegada à belíssima cidade de Machacalís.

Na sexta-feira, a “Conversa de Lavadeira”, como já é de costume, lavou a alma de quem foi assistir e participar. Cada lavadeira contou sua história, emocionando e provocando os presentes. Sim, provocando. E o resultado das provocações, foi um festival de mulheres e até homens, contando suas histórias, que começaram no campo, na lida, lavavam (e ainda lavam) roupas, cuidam da casa, e ainda participam dos grupos de cultura popular, dos batuques, folias. Foi uma sexta-feira muito emocionante. Essa troca é sempre a melhor escola.

O sábado começou com expectativa, carro de som anunciando cidade afora o show da noite. Chega o momento, começam as apresentações (lindas e emocionantes) dos grupos de cultura popular locais e na hora do show…viixe Maria, acabou a luz. Mas foi só a luz, porque a energia a cada segundo, aumentava mais. Algum tempo depois, a luz estava restabelecida, a energia, já tinha triplicado, quadriplicado, a vontade do público, que não arredou pé do local, para ver o show, nossa vontade de subir no palco e, como forma de agradecimento, fazer daquela noite um momento inesquecível, memorável. E assim foi o show: a cada música, uma emoção mútua, e ao final, estávamos todos, palco e platéia em êxtase.
Agradeço novamente a Deus, Oxalá, Buda, Tupã Jáh pelo dom, a Carlos Farias e Beatriz Farias pela confiança, às lavadeiras por existirem, à Petrobrás por fomentar, acreditar na Cultura do Brasil Profundo, e a todos que direta ou indiretamente contribuem para que a Procissão das Lavadeiras e sua Devoção continuem seguindo viagem, pedindo passagem, levando esperanças, alegria, fé e amor, mund’afora !
Não poderia terminar esse texto sem citar um dos momentos mais lindos da viagem:
Dona Maria, que faz azeite, cordão de São Francisco, lava roupa, trabalhou na lida na roça praticamente a vida inteira, no sábado de madrugada, foi levar seu azeite e seu artesanato pro Céu. Ela, que nos emocionou ao se levantar do meio do público, pegar o microfone e contar sua história de lutas e vitórias, saiu de madrugada, sem se despedir dos novos e antigos amigos seus, e partiu, partiu, partiu…pra perto de Deus !

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