Belo Horizonte – quinta-feira, 20 de março, o Grande Teatro do Sesc Palladium com seus 1370 lugares quase ficou completamente lotado por uma platéia diversificada: crianças com seus pais, professores, jovens, adultos e terceira idade. O projeto “Caravana Musical – Cultura e Cidadania”, patrocinado pela Petrobras, Lei de Incentivo à Cultura e apoio cultural do Sesc, trazia ao palco o espetáculo “Devoção”, com o Coral das Lavadeiras, Carlos Farias e convidados. Mais um grande desafio na vitoriosa carreira dos artistas almenarenses.
Quando as cortinas se abriram as lavadeiras sairam das coxias em duplas, cantando, à capela, a música São Bendito, gravada no disco “Devoção”. Solenemente, como numa procissão, elas se dirigiram a um pequeno altar colocado à esquerda do palco. Cada uma carregava objetos de trabalho: um ferro de engomar antigo, outro moderno, um fole de avivar brasas, um estandarte e imagem do santo da melodia, moringa com água, vasos e flores. Tudo foi depositado em cima e ao lado do altar, compondo o lindo cenário construído pelas crianças da Escola Municipal José Madureira Horta. Por último entrou a lavadeira Ana Isabel, carregando uma bacia com roupas e Carlos Farias tocando um tambor. Ambos caminharam ao centro do palco, diante do público, e ali deixaram seus objetos, como uma oferenda aos santos. Um foco de luz iluminava somente as duas áreas ocupadas pelas lavadeiras. A platéia mal respirava. Ainda entoando a mesma música, todos se posicionaram diante dos microfones. As luzes coloridas iluminaram o fundo do palco, onde os músicos já estavam posicionados. Carlos Farias deu os primeiros acordes do “Canto das Lavadeiras” e Miriam soltou a voz, acompanhada pelo coro das colegas. O público explodiu em aplausos. Daí por diante foi uma sucessão de canções inéditas, intercaladas com outras dos discos Batukim Brasileiro e Aqua.
Momentos marcantes: a apresentação de cada lavadeira, agradecendo a todos pela presença. Risos e suspiros emocionados vinham da platéia. Várias pessoas não conseguiam conter as lágrimas. Era o Brasil profundo mostrando a sua voz, cantando e contando histórias adormecidas na memória coletiva. O Jequitinhonha, mais uma vez, mostrando o seu valor. Outro momento maravilhoso foi a participação de João Bá, o mestre cantador baiano de Bom Jesus dos Dendês, na flor dos seus 81 anos, parecendo uma criança brincando com o mar e querendo abraçar o público com a sua música. A empatia era total. Em seguida entrou o Wilson Dias, desfilando sua voz e sua viola na canção “Mãezinha foi pro riacho”, juntamente com Sanráh, autor da música e integrante da banda que acompanha as lavadeiras. Outro destaque importante foi a presença das jovens cantoras Mariana Gonçalves e Mayra de Oliveira, netas das lavadeiras Ana Isabel da Conceição e Mírian Pessoa. Elas renovaram o coral com suas vozes, juventude e grande presença de palco. A penúltima canção foi a clássica “Palma do rio”, cantada por Carlos Farias e lavadeiras, com João Bá e Wilson Dias presentes no palco. A platéia pediu bis e Carlos Farias fez todo mundo se levantar ao som de “Batukim Brasileiro”, uma maravilhosa seleção de batuques dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Final de show. Todos pareciam estar de alma lavada. Mas a festa continuou no foyer do Teatro, entre beijos, abraços, fotos, autógrafos, risos e lágrimas. A Caravana Musical cumpriu o seu papel.